Símbolos e Rituais da Semana Santa em Minas Gerais
Minas Gerais se transforma em um grande palco a céu aberto durante a Semana Santa. De norte a sul, as cidades ganham vida com celebrações que unem fé, arte e tradição em manifestações cheias de significado.
Para quem quer viver esse momento de forma especial, o Portfólio Minas Santa 2025 traz diversas opções para aproveitar o feriado com encanto e emoção.
E aqui no blog, destacamos alguns dos principais símbolos e rituais dessa época tão importante. Vamos conferir?
Símbolos da Semana Santa
Tapetes de Serragem
Em diversas cidades mineiras, com destaque para Ouro Preto, São João del-Rei e Sabará, é comum a confecção de tapetes devocionais de serragem para a Semana Santa e Corpus Christi. Essas verdadeiras obras de arte são criadas diretamente no chão das ruas, usando materiais como serragem colorida, sal, areia, flores e pó de café.
Mais do que enfeites, esses tapetes simbolizam a fé e a dedicação da comunidade. Eles representam cenas bíblicas e ícones cristãos, servindo como caminho sagrado por onde passam as procissões. O processo é coletivo e envolve pessoas de todas as idades, reforçando o espírito comunitário e a religiosidade popular.
Foto: Ane Souz
Círio Pascal
O Círio Pascal é uma vela grande que simboliza Cristo como a luz do mundo, que vence a escuridão do pecado e da morte com a sua ressurreição. Acender o círio durante a Vigília Pascal, na noite do Sábado de Aleluia, representa a renovação da fé cristã e a presença viva de Jesus entre os fiéis. A chama que se espalha pelas velas dos presentes é sinal de que, por meio de Cristo, cada cristão é chamado a levar luz e esperança ao mundo.
Em lugares como Diamantina e Mariana, onde as igrejas históricas já criam uma atmosfera única, essa celebração ganha ainda mais força e beleza.
Ramos (de palmeira e oliveira)
No Domingo de Ramos, os fiéis caminham com galhos nas mãos para lembrar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Mais do que uma recordação histórica, os ramos simbolizam a vitória de Cristo sobre a morte, a esperança da ressurreição e o compromisso dos fiéis em seguir seus passos. Em Sabará e Caeté, é comum ver famílias inteiras saindo cedo com os ramos, que em muitas igrejas são abençoados antes da procissão, marcando o início solene da Semana Santa.
Passinhos
Os "passinhos", são uma expressão da fé popular em que cada um deles simboliza um momento da caminhada de Jesus rumo ao Calvário. Ao refazer os passos de Jesus, os cristãos se colocam espiritualmente em seu lugar, revivendo a dor, a compaixão e a esperança da ressurreição. São altares que transformam as ruas em espaços de devoção, memória e comunhão. Em São João del-Rei, essa tradição é particularmente forte. A cidade preserva cinco capelinhas de pedra que, junto com a igreja de partida (São Francisco de Assis) e a de chegada (Nossa Senhora do Pilar), completam as sete estações simbólicas da Paixão de Cristo.
Cada uma representa um episódio marcante: a agonia no Horto das Oliveiras, a sentença de Pilatos, a lamentação das mulheres, o encontro com Maria, o gesto da Verônica, a ajuda de Simão Cirineu e, por fim, a crucificação no Calvário. Já em Congonhas, os Passos da Paixão, um conjunto de 66 esculturas em madeira esculpidos por Aleijadinho marcam essa tradição com uma força simbólica e artística sem igual.
Óleo dos Catecúmenos e do Crisma
O óleo que simboliza a plenitude do Espírito Santo e a unção divina, são abençoados pelo bispo na Missa do Crisma, na Quinta-feira Santa, e usados em batismos e crismas. Eles não são visíveis como outros símbolos, mas fazem parte da base ritual da Semana Santa em todas as igrejas católicas de Minas.
Rituais que marcam a Semana Santa
Procissão do Fogaréu
Um dos rituais mais impactantes visualmente da Semana Santa. Realizada sempre na noite de Quinta-feira Santa, essa procissão simboliza o momento em que Jesus é traído e preso no Horto das Oliveiras. Com tochas acesas e participantes encapuzados representando os guardas, a cena é carregada de emoção e simbolismo.
Ofício de Trevas
Uma celebração litúrgica noturna, rezada na noite da Quarta-feira Santa, ou madrugada da Quinta-Feira Santa que remete às 3 trevas da vida, a natural, a litúrgica e a simbólica. O Ofício é marcado pelo canto gregoriano e pela simbólica extinção das velas.
Em Diamantina e Mariana, esse ofício impressiona pela combinação de silêncio, música e espiritualidade. É um momento profundo, que convida à reflexão.
Queima do Judas
No Sábado de Aleluia, o boneco de Judas é queimado, às vezes até “julgado” pela comunidade. É um ritual mais popular e descontraído, mas ainda muito simbólico.
Segundo a Bíblia, Judas Iscariotes foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. O discípulo teria traído Jesus ao entregá-lo para a crucificação em Jerusalém em troca de pagamento. O relato bíblico é de que Judas entrou em desespero: “E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar” (Mateus, 27:5).
Em Itabirito, o evento atrai famílias inteiras. Já em Belo Horizonte e Ouro Preto, alguns bairros mantêm a tradição com bonecos gigantes e encenações criativas.
Queima do Judas - Chapada do Norte MG por Maurício Costa.
Cerimônia do Descendimento da Cruz
Na Sexta-feira da Paixão, uma das cerimônias mais marcantes da Semana Santa é o Descendimento da Cruz, que representa o momento em que o corpo de Jesus é retirado da cruz após sua morte.
A encenação é carregada de emoção e simbolismo: fiéis e atores encarnam Maria, os discípulos, os soldados romanos e, claro, o próprio Cristo, em uma representação que convida todos os presentes à reflexão e ao luto pela morte do Salvador.
Em Congonhas, esse momento é parte da tradicional Encenação da Paixão de Cristo, realizada aos pés dos famosos Profetas de Aleijadinho, no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. O cenário, somado à iluminação e à trilha sonora, torna a experiência ainda mais impactante.
Canto Gregoriano e Música Barroca
A música sacra é parte essencial da experiência em cidades históricas. Corais, orquestras e repertórios antigos tomam conta das igrejas.
A sonoridade dos corais e órgãos de tubos geralmente acompanham os cânticos e as músicas durante os momentos da Semana Santa. Durante os dias da Semana Santa, os órgãos sacros acompanham as procissões, as liturgias da Paixão, os ofícios divinos e outras atividades religiosas, proporcionando uma trilha sonora majestosa e emocionante para os momentos de oração e reflexão dos fiéis.
São João del-Rei, com suas tradições musicais seculares, é um grande destaque, ao lado de Mariana, que abriga um órgão do século XVIII, e Diamantina, onde o barroco e o canto gregoriano se encontram em perfeita harmonia.
Lavagem dos Pés
O lava-pés na Quinta-feira Santa é um ritual que simboliza a humildade e o serviço de Jesus Cristo. É uma lembrança da Última Ceia, quando Jesus lavou os pés dos seus discípulos. Em Ouro Preto, homens da própria comunidade são convidados todos os anos para representar os apóstolos, tornando o momento ainda mais próximo dos fiéis.
Encenação da Paixão e Morte de Cristo
A encenação da Paixão e Morte de Cristo, realizada na Sexta-feira da Paixão, é um dos momentos mais expressivos da Semana Santa. Através da dramatização de cenas como o julgamento, a crucificação e a ressurreição, a celebração convida os fiéis a reviverem os últimos passos de Jesus com emoção e espiritualidade.
Em Alpinópolis, o destaque é o Monte das Oliveiras, considerado o maior cenário bíblico a céu aberto do Brasil. O espaço se transforma em um grande palco para atores, figurinos e efeitos visuais que impressionam pela grandiosidade. Fé, arte e cultura se unem em uma experiência que emociona e fortalece a devoção popular.
Encenação da Paixão de Cristo - MONTE DAS OLIVEIRAS EM ALPINÓPOLIS - Por Grupo de Teatro do Oprimido Monte das Oliveiras e ONG AÇÃO CRIATIVA
Por que vale a pena conhecer?
Embora a maioria dos municípios mineiros celebre esse e outros ritos durante a Semana Santa, algumas localidades se destacam por tornar essas manifestações parte essencial de sua identidade. É o caso das cidades mencionadas, onde tradições barrocas e religiosas ganham vida com a participação de coros, orquestras e a preservação cuidadosa dos rituais seculares.
Para conhecer mais sobre esse período tão especial em outros municípios do estado, acesse o Portfólio Minas Santa 2025
A Semana Santa em Minas Gerais transcende o aspecto religioso, é também uma expressão vibrante da cultura, da história e do sentimento de pertencimento. Cada cidade celebra à sua maneira, mas todas compartilham a devoção, a beleza dos detalhes e a força da coletividade.
Se você ainda não vivenciou uma Semana Santa no interior mineiro, já pode incluir na sua lista!
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