Cozinha Mineira: um Patrimônio que Alimenta a Cultura
Se tem uma coisa que desperta memória afetiva em qualquer mineiro é o cheiro de comida saindo do fogão a lenha. A cozinha mineira é mais que um conjunto de receitas, ela é um modo de viver, acolher e transmitir saberes que atravessam gerações. Reconhecida por sua riqueza de sabores e pelas histórias por trás de cada prato, ela foi moldada ao longo do tempo por influências indígenas, africanas e portuguesas, e hoje é celebrada como patrimônio cultural do Brasil.
A Riqueza dos Sabores de Minas
Feijão tropeiro, frango com quiabo, angu, torresmo, couve refogada, pão de queijo, goiabada cascão, doce de leite... a lista de delícias é extensa e profundamente ligada às tradições das famílias mineiras e às práticas agrícolas do estado. Os ingredientes simples, mas extremamente saborosos, refletem a criatividade de um povo que aprendeu a valorizar o que a terra oferece e a transformar cada refeição em um ritual de afeto.
Essa cozinha não se resume apenas aos pratos: ela está nos modos de fazer, nas mãos que preparam, nos utensílios usados e nas histórias compartilhadas ao redor da mesa. E é justamente esse conjunto de saberes e fazeres que levou, a partir do registro dos sistemas culinários do milho e da mandioca, a cozinha mineira foi declarada patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais.
Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal: Patrimônio da UNESCO
Entre os produtos mineiros mais emblemáticos, está o Queijo Minas Artesanal (QMA), produzido há séculos nas fazendas do estado. O QMA é resultado de um processo minucioso, passado de geração em geração, que respeita o tempo do leite cru, da coagulação natural e da maturação cuidadosa. É produzido em sete regiões com denominação geográfica: Serro, Canastra, Alto Paranaíba, Campo das Vertentes, Araxá, Triângulo Mineiro e Cerrado.
O modo de fazer esse queijo foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro pelo IPHAN em 2008, e os "Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal" foram reconhecidos pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 4 de dezembro de 2024. Esse reconhecimento valoriza não apenas o produto, mas também o modo de vida dos produtores, sua organização comunitária e a sustentabilidade das cadeias produtivas envolvidas.
Patrimônios Alimentares de Minas Gerais
Além do Queijo Minas Artesanal e da Cozinha Mineira Tradicional, vários outros bens alimentares fazem parte do inventário cultural do estado. Entre eles:
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Modo de fazer a cachaça de alambique
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Modo de fazer a rapadura e o melado
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Modo de fazer o pão de queijo mineiro
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Modo de fazer a quitanda de Congonhas
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Modo de fazer o pastel de angu de Itabirito
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Modo de fazer da goiabada cascão em São Bartolomeu
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Festa do Vinho de Andradas
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Festa do Café com Biscoito de São Tiago
Esses bens registrados ajudam a preservar tradições, fomentar o turismo e valorizar os territórios onde são produzidos, conectando identidade, memória e economia local.
O Café em Minas Gerais
Agora, fique com o que o Felipe Brazza, que é barista, mestre de torra, cafeicultor, proprietário de uma escola de barismo e apaixonado por cafés, nos contou sobre o café mineiro:
É bastante comum ser recebido nas casas brasileiras com uma xícara de café, como um ato de gentileza e boas-vindas. E em Minas esse gesto é normalmente acompanhado de quitandas típicas, o que melhora mais ainda a experiência. O café é um símbolo de hospitalidade, característica essa marcada na identidade do povo mineiro, e relaciona-se diretamente com a cozinha mineira, seja no farto café da manhã com bolos, biscoitos e pães ou após almoço nas mesas de muitos lares.
O café entrou no Brasil no século XVIII. De acordo com a versão mais conhecida da história, as primeiras sementes de café foram trazidas escondidas da vizinha Guiana Francesa e plantadas posteriormente no norte do estado do Pará. O cultivo foi aos poucos se expandindo para o Maranhão, Bahia e principalmente para a região sudeste, em especial em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde a planta se adaptou perfeitamente por conta do clima e solos ideais.
À medida que o cultivo de café prosperava em MG, a região ganhava destaque na produção de grãos para exportação, o que levou ao desenvolvimento de ferrovias e estradas de ferro que facilitavam o transporte do café das fazendas até os portos para exportação.
Minas Gerais, se fosse um país, seria o maior produtor de café do mundo. O estado é o maior produtor do Brasil — tanto em volume quanto em valor — e, de acordo com as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2024/25, produziu cerca de 28 milhões de sacas de café, o que representa mais de 50% da produção nacional.
A produção mineira é predominantemente de café arábica. A diversidade de climas e altitudes em Minas Gerais contribui para a variedade de sabores e aromas do café produzido na região, o que é altamente valorizado no mercado nacional e internacional. Dentre as principais regiões produtoras em MG temos a Mantiqueira de Minas, Sul de Minas, Matas de Minas, Caparaó e Cerrado Mineiro.
Durante a disseminação do cultivo do café em Minas, não podemos deixar de citar uma das primeiras mulheres cafeicultoras de destaque no Brasil: Inês Carvalho Dias. Com 25 anos, viúva e mãe de quatro filhos, Inês desafiou as condições impostas pela sociedade da época e comprou uma fazenda na divisa de Minas com SP. Com a ajuda dos filhos, iniciou a lavoura de café e, com os lucros iniciais que obteve nessa terra, comprou ainda mais duas fazendas e consolidou-se como uma das pioneiras na cafeicultura da região.
Rotas Gastronômicas em Minas Gerais
Viajar por Minas é embarcar em uma verdadeira jornada de sabores. O estado possui diversas rotas turísticas que conectam produtos típicos, produtores locais, paisagens deslumbrantes e, claro, muita comida boa. Confira algumas:
Rotas da Canastra – Queijo, Café e Cachoeiras
Essa experiência une natureza, cultura e gastronomia na região da Serra da Canastra. São duas rotas principais:
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Rota Queijo, Café e Cachoeiras – abrange os municípios de Piumhi, São Roque de Minas e Vargem Bonita, proporcionando ao visitante vivências com produtores de queijo, visitas a cachoeiras e cafezais.
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Rota Experiências Canastreiras – situada em Delfinópolis, valoriza as tradições locais e a hospitalidade do povo canastreiro com foco no turismo rural, gastronômico e cultural.
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Rota do Queijo do Serro
Uma das mais antigas tradições queijeiras de Minas ganha destaque nessa rota que percorre Serro, Santo Antônio do Itambé e Conceição do Mato Dentro, valorizando o saber-fazer do queijo artesanal e o cotidiano dos produtores.
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Rota do Café do Cerrado Mineiro
Após a expansão realizada em 2024, essa rota passou a incluir, além de Patrocínio, Monte Carmelo e Patos de Minas, outros municípios produtores. A experiência envolve visitas a fazendas certificadas, degustações e contato com baristas e produtores.
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Rota dos Cafés do Sul de Minas
Também expandida em 2024, essa rota hoje atende Três Pontas, Cambuquira, São Lourenço, Baependi, Caxambu, Cruzília, Varginha e Carmo de Minas, oferecendo aos visitantes vivências em propriedades produtoras de cafés especiais, além de encontros com produtores e harmonizações com quitandas típicas.
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