A riqueza dos Congados em Minas Gerais
Na hora que Deus começa,
Quero começar também,
Deixa eu me benzer primeiro,
Pra rar um mal porém.
Olha agora que cheguei, olha aê
A vocês peço licença,
Olha agora que cheguei, olha aê
A vocês peço licença.
Joguei o meu barco na areia
Vim Louvar Santa Maria
Joguei o meu barco na areia
Vim Louvar Santa Maria.
(Cantiga presente na oralidade dos Reinados e Congados)
Origem
Fotos: Renata Garbocci
O Congado, conhecido em diversos contextos como festas dos Reinados, é uma manifestação cultural e religiosa que tem suas raízes nas tradições africanas. A mistura dos elementos da religião africana com a fé católica, é o centro da formação da festividade.
As primeiras celebrações de Congado em Minas Gerais aconteceram no século XVIII e estavam fortemente associadas às irmandades de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, formadas por negros escravizados e libertos.
Essas festividades se espalharam por várias regiões do estado, cada uma desenvolvendo suas próprias particularidades, mas mantendo o espírito de devoção, resistência e celebração.
Cultura e Tradições
Me chamaram de estrela
Estrela eu não sou não,
Estrela mora lá em cima
Eu moro aqui no chão,
Fui pedir a Ela um brilhinho
Ela me deu sua mão,
Estrela é Nossa Senhora
Com seu Rosário na mão.
(Cantiga presente na oralidade dos Reinados e Congados)
Foto: Consuelo Abreu
O Congado é símbolo de resistência, fé e arte, enraizadas nos modos de vida dos povos negros mineiros desde o inicio da formação cultural do estado.
A celebração é marcada por uma série de rituais e práticas que envolvem música, dança, cantos e encenações teatrais. Violas, violões, tambores, mastros, cantorias e rezas marcam a tradição e os festejos nas ruas e igrejas mineiras, conectando passado e presente.
Os principais elementos culturais do Congado são:
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Ternos e Guardas: Grupos organizados que representam diferentes santos e entidades. Cada terno ou guarda possui sua própria indumentária, músicas e danças.
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Instrumentos: Os principais instrumentos utilizados são tambores, chocalhos, caixas e outros de percussão, além de violas e violões em algumas regiões.
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Cantos e Danças: As músicas do Congado são cheias de significado religioso e cultural, contando histórias de santos, reis e rainhas. E as danças são bastante energéticas e coordenadas, muitas vezes realizadas em procissões e cortejos.
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Personagens: As celebrações são ricas em figuras importantes que desempenham papéis essenciais nas celebrações, como reis e rainhas, mestres de congado e foliões.
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Festas e Celebrações: As principais festas do Congado acontecem em torno de datas religiosas, como a festa de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia.
Fotos: Consuelo Abreu
O Congado em Minas Gerais
Minas reúne a maior concentração de congadeiros do país, segundo a Federação dos Congados do Estado, mantendo viva a tradição passada de geração em geração. Existem diversos grupos, ou ternos, podendo citar os principais:
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Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte, Chapada do Norte, Vale do Jequitinhonha
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Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Arturos, Contagem
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Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia, Triangulo Mineiro
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Irmandade do Rosário Os Ciriacos, Contagem
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Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, Ribeirao das Neves
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Irmadande Os Carolinos, Belo Horizonte
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Guarda de Massambique de Nossa Senhora das Mercês, Oliveira
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Guarda de Moçambique Nossa Senhora Aparecida, Passatempo
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Reino Treze de Maio, Belo Horizonte
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Irmandade Nossa Senhora do Rosário do Jatobá, Belo Horizonte
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Congo e Moçambique Nossa Senhora do Rosário e São Benedito em Ilicinea, Sul de Minas
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Terno de Congada e Guarda de Moçambique, Guapé, Sul de Minas
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Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, Norte de Minas
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Banda de Congo Nossa Senhora do Rosário, Paula Cândido, Zona da Mata.
Fotos: Renata Garbocci
E você sabia que os Congados e Reinados são declarados Patrimônio Cultural Imaterial de Minas Gerais? O registro como Patrimônio Cultural garante que essa cultura se mantenha viva.
A preservação das Afromineiridades não apenas fortalece a identidade cultural de Minas, mas também reafirma a importância dos povos negros na história, reforçando o combate a discriminação e o racismo.
Pra quem não conhece o Congo
Não precisa se assustar
Oi que nois bate nossa caixas
Pro nosso santos louvar, aia.
O bastão que o capitão empunha
Ele não é enfeite não
Entre o céu e a terra
Ele faz a ligação, aia.
Oia as lata forma a gunga
Ela não só instrumento não
Ela é a liberdade
A liberdade, da escravidão, aia.
(Cantiga presente na oralidade dos Reinados e Congados)
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